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Tolkien e a Primeira Guerra Mundial

Estou certo de que a maioria dos leitores e admiradores da literatura do velho Tolkien saibam do fato curioso de que ele serviu na Primeira Guerra Mundial. Em sua biografia, no entanto, esse fato curioso não seria, por si só, sustentável, já que se trata dos detalhes da vida do Professor. Tolkien passou por momentos difíceis em sua jornada terrena. A fama de um escritor renomado só veio após a segunda metade de sua vida e a resiliência foi uma aliada para ele até tal momento chegar. Dentre os vários infortúnios que o acometeram, certamente o mais impactante foi seu período como segundo-tenente do Corpo de Fuzileiros de Lancashire. Atenho-me à sua principal biografia, escrita por Humphrey Carpenter, para resumir em pequenos parágrafos o que se passou nesse período.

“Estes dias cinzentos, desperdiçados repassando sem parar os tópicos monótonos, as minúcias enfadonhas da arte de matar, não são nada agradáveis.” P. 111

No fim do verão de 1914, quando ainda era recém-chegado na Universidade de Oxford, a Inglaterra declarou guerra à França. O irmão de Tolkien, Hilary — que já havia se alistado e era corneteiro — não teve sua companhia, uma vez que Tolkien queria ficar em Oxford para prestar o exame de nivelamento de classe. Além disso, um programa educacional permitiu que ele estudasse e treinasse para o exército simultaneamente, retardando a convocação militar para depois do término do exame.

Tolkien conseguiu conciliar muito bem os estudos acadêmicos, o treinamento militar e também tentava manter o ritmo na escrita de suas narrativas. Àquela altura, já tinha produzido coisas relevantes na subcriação, inclusive sua adaptação da lenda finlandesa de Kullervo, que fora iniciada exatamente neste período. Ademais, escreveu alguns poemas e a língua élfica criada por ele, também derivada da língua finlandesa, progrediu e ganhou contornos importantes. Enquanto o mundo fervia com os horrores de um conflito armado sem precedentes, Tolkien permaneceu firme, mesmo sem saber o porquê estava criando aquilo tudo, pois a maioria das histórias do seu universo ainda eram esparsas. Contudo, ele progredia.

Um ano depois, em junho de 1915, passou no exame, conseguindo seu objetivo de classificar-se na Primeira Classe de Oxford. Também tinha chegado o momento de assumir seu posto como segundo-tenente. No decorrer de um mês, já estava treinando no 13° Batalhão, localizado em Bedford. Lá, Tolkien aprendeu a reger um pelotão e assistiu a palestras militares. Deixou o bigode crescer, talvez na tentativa de parecer mais velho ou respeitável perante os outros oficiais.

Nessa época, Tolkien ainda não era casado e via sua noiva Edith apenas nos fins de semana, quando ia ao seu encontro em uma bicicleta motorizada que adquirira.

Depois de ser transferido para Staffordshire, decidiu especializar-se em sinalização, pois percebeu — inteligentemente, devo dizer — que ele era muito melhor em lidar com palavras, mensagens e códigos do que em comandar um pelotão com centenas de homens. Dessa forma, aprendeu código Morse, sinalização com bandeiras e discos, transmissão de mensagens por heliógrafos e lanterna, uso de foguetes de sinalização, telefones de campanha e até mesmo a utilização de pombos-correio. Logrou êxito em tal especialização e foi nomeado oficial de sinalização de seu batalhão.

Com seus 24 anos de idade, decidiu casar-se com Edith, que já tinha 27. Tolkien sabia que a probabilidade de ir à França combater era muito alta e tinha em mente que poderia jamais retornar com vida, pois o número de baixas das tropas britânicas era exorbitante. A situação financeira também não era favorável, sendo o soldo de sua patente sua única fonte de renda. Alguns poemas que escreveu foram publicados e também vendeu sua bicicleta. Tudo para conseguir casar com a mulher que escolheu viver para o resto da vida, ainda que não lhe restasse muito tempo.

Conversou com o Padre Francis, que fora seu tutor de um período que se estendeu da morte de sua mãe até a sua maioridade. Todavia, não conseguiu falar a respeito do casamento com o Padre, pois tinha medo da desaprovação deste. Padre Francis só teve a notícia uma quinzena antes do matrimônio, quando Tolkien escreveu-lhe uma carta, e não teve como realizar a cerimônia, mas abençoou genuinamente o jovem casal.

Em 22 de Março de 1916, Ronald Tolkien e Edith Bratt eram unidos pelo Santo Sacramento do Matrimônio. Pouco tempo depois, já tomaram a primeira decisão em conjunto. Optaram por não morar em um lugar fixo enquanto durasse a guerra.

Eis que, no dia 4 de junho de 1916, Tolkien recebeu ordens de embarque. O momento havia chegado. Era hora de atravessar o Canal da Mancha rumo ao território francês. Edith acomodou-se em Great Haywood, um vilarejo de Staffordshire, e Tolkien seguiu para Londres, atravessando de lá para a França.

Inicialmente, alocou-se em Étaples e fez treinamentos. No entanto, nada mais que isso. Escreveu para Edith nesse ínterim, esclarecendo que estava entediado e que não gostava da forma como tratavam-no. Tolkien comentaria, muitos anos depois, que o personagem Sam Gamgi, de O Senhor dos Anéis, era um reflexo do soldado inglês e da guerra de 1914. Depois de três semanas em Étaples, seguiu viagem de trem. O destino era — e é até hoje — conhecido como um dos mais marcantes daquela guerra: o Somme.

Depois de caminhar 16 quilômetros acompanhado de uma forte chuva, de Amiens até Rubempré, alojou-se por uma noite em um celeiro. Nesse ponto, Tolkien viu o estrago que a guerra estava fazendo. Telhados quebrados, construções em ruínas e o barulho constante de bombas sobre as linhas alemãs.

No dia 31 de junho, iniciou-se a ofensiva britânica. Porém, Tolkien não entraria em ação ainda. Isso porque seu superior, Sir Douglas Haig, calculou que as linhas alemãs iriam romper-se alguns dias depois e as tropas britânicas/aliadas entrariam em território alemão com menos dificuldade. A missão foi um fracasso, pois as tropas britânicas não obtiveram sucesso nem sequer em cortar o arame farpado que dividia os dois territórios. Os soldados britânicos, sem saber de tal fato, entraram em ação para dar prosseguimento ao plano no dia seguinte, às 7:30 da manhã. Quando chegaram perto, as linhas alemãs atacaram com toda a força, abrindo fogo com metralhadoras.

Tolkien também não estava presente em tal momento. Poucos dias depois, foi transferido para Bouzincourt, um vilarejo próximo de onde estava. A sorte fora mais gentil e agora ele dormia em um casebre. As consequências do ataque mal gerido foram óbvias. Havia muitos feridos, mutilados e mortos. Estima-se que 20 mil aliados morreram em tal investida, sendo britânicos e franceses a maioria entre esses.

Houve ainda outro confronto, em 6 de julho, mas Tolkien novamente não foi convocado. Neste mesmo dia, seu grande amigo, G.B. Smith, veio visitá-lo em Bouzincourt. Smith também estava servindo na guerra. Passaram alguns poucos dias juntos e discutiram sobre a guerra e o futuro, mas também sobre poesia. Então a companhia do último ataque voltou com uma baixa de doze homens e mais de uma centenas de feridos.

Numa sexta-feira, 14 de julho, Tolkien entrou em ação como sinalizador. Depois de marchar até as trincheiras, encontrou dificuldades. No treinamento que tivera, tudo era perfeito e ordenado. No Somme, tudo era desordem, inclusive a sinalização. Quase todos os tipos de comunicação através de fios estava proibida, pois os alemães haviam grampeado as linhas telefônicas com o intuito de interceptar as instruções que eram passadas antes dos ataques dos aliados. Apenas o mais primitivo era permitido, como sinalizadores manuais, bandeiras ou pombos-correio.

Mas tal situação não se compara à descrição a seguir, que não consegui resumir e por isso resolvo citar diretamente do livro:

“O pior de tudo eram os mortos. Havia cadáveres por todos os lados, horrivelmente dilacerados pelos projéteis. Os que ainda tinham rostos fitavam o nada com olhos medonhos. Além das trincheiras, a terra de ninguém estava semeada de corpos inchados e em decomposição. Tudo era desolação. O capim e o trigo haviam desaparecido em meros troncos mutilados e enegrecidos. Tolkien nunca esqueceria o que chamou de ‘horror animal’ da guerra de trincheiras.” P. 120

Dias depois, Tolkien entrou diretamente em combate quando sua companhia se aliou à Sétima Brigada de Infantaria para uma ofensiva ao vilarejo de Ovillers, que estava sob a tutela dos alemães. Mais uma vez o ataque fracassou. O arame continuou incólume e por esse motivo muitos homens do batalhão de Tolkien tombaram.

Depois de 48 horas sem nenhum descanso, conseguiu dormir um pouco em um abrigo de uma trincheira próxima. No dia seguinte, sua companhia foi dispensada e ele voltou a Bouzincourt. Ao chegar, encontrou uma carta do dia 15 de julho. A autoria era de G.B. Smith, que o visitara poucos dias antes.

Um grande amigo em comum dos dois, de nome Rob Gilson — também membro do T.C.B.S., uma espécie de grupo literário que Tolkien participou — teve a vida ceifada enquanto liderava um pelotão em La Boiselle.

Desolado, mas forçado a cumprir suas obrigações de soldado, Tolkien seguiu e participou de vários outros ataques, quase todos sem sucesso. Ainda encontrou-se com Smith mais algumas vezes.

Gradativamente, os combates foram perdendo intensidade no Somme. Isso se deu devido às grandes baixas dos dois lados. Tolkien temia ser uma dessas baixas e tentou obter licença para retornar ao solo inglês, mas não conseguiu autorização para deixar o batalhão.

“Pirexia de origem desconhecida”, popularmente conhecida como “febre das trincheiras”. Tal doença foi quem o tirou do campo de batalha. Milhares de soldados já haviam morrido em decorrência dessa enfermidade e Tolkien esteve na iminência de ser um deles. Logo que adoeceu, foi transferido para um hospital de campanha mais próximo. Após 24 horas, já estava em Le Touquet, onde ficou por uma semana. Porém, não apresentou melhoras. No dia 8 de novembro, embarcou para a Inglaterra. O destino final era um hospital na grande Birmingham.

Edith estava ao lado do esposo e o viu recuperar a saúde nos dias que se sucederam. Entretanto, mais uma notícia triste veio.

Smith, tão próximo de Tolkien nos dias mais sombrios de sua vida, encontrou seu fim devido à ferimentos de granada. Uma granada explodiu muito perto enquanto ele caminhava por um vilarejo, ferindo gravemente seu braço direito e sua coxa. Poucos dias após o incidente, a gangrena se instalou.

Momentos antes de encontrar a morte, Smith havia escrito uma carta, e esta era para Tolkien.

“Meu principal consolo é que, se eu morrer hoje — vou sair em missão daqui a alguns minutos — , ainda restará um membro do grande T.C.B.S. para expressar o que sonhei e no que todos concordamos. Pois a morte de um dos seus membros não pode, tenho certeza, dissolver o T.C.B.S.

A morte pode nos tornar repugnantes e indefesos como indivíduos, mas não pode acabar com os quatro imortais! Uma descoberta que vou comunicar a Rob antes de sair hoje à noite. E você, escreva-a a Christopher. Deus o abençoe, meu caro John Ronald, e possa você dizer as coisas que tentei dizer, muito tempo depois de eu não estar aqui para dizê-las, se for esse meu destino.

Sempre seu,

G.B.S.”

Profundamente tocado, Tolkien sabia o que Smith queria dizer. É correto afirmar que a semente da criação de toda uma mitologia transitou também nessa carta de seu falecido amigo. Em uma linguagem mais simples, Smith deu o empurrão que faltava.

Por algumas vezes, John Tolkien flertou com a volta à França, pois a guerra ainda não tinha acabado. Entretanto, acabou ficando na Inglaterra.

O que seria John Ronald Reuel Tolkien sem a Guerra? É provável que nunca saberemos a resposta. Mas faz-se necessário afirmar seguramente que momentos tão duros forjaram-no para ser um bom marido, pai, linguista, professor e, sem dúvidas, um dos maiores escritores de seu tempo.

Todos os que leram até aqui têm minha profunda gratidão. Muito obrigado.

Atenciosamente,

João M. da Silva Neto

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